Um estudo
publicado nesta segunda-feira (15) na revista Molecular Psychiatry traz uma
nova abordagem promissora para tratamento da doença de Alzheimer – e também para uma possível vacina
contra ela. A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe formada por cientistas
do Reino Unido e da Alemanha.
De acordo
com o site Medical Xpress, tanto o tratamento, à base de anticorpos, quanto a
vacina, baseada em proteínas, desenvolvidos pela equipe reduziram os sintomas
de Alzheimer em camundongos.
O trabalho
é uma colaboração entre a Universidade de Leicester, o Centro Médico da
Universidade de Göttingen e a LifeArc, uma instituição de caridade britânica de
pesquisa médica.
Em vez de
focar nos peptídeos beta-amiloides das placas cerebrais, que são comumente
associadas à doença de Alzheimer, o medicamento e a vacina têm como alvo uma
forma solúvel diferente – a proteína beta-amiloide, que é considerada altamente
tóxica.
Segundo a
pesquisa, a forma natural da proteína beta-amilóide consiste em moléculas
semelhantes a fios altamente flexíveis em solução, que podem se unir para
originar fibras e placas.
Na doença
de Alzheimer, uma alta proporção dessas moléculas em forma de fio tornam-se
encurtadas ou “truncadas”, e os cientistas envolvidos nesse novo estudo
acreditam que isso tenha papel crucial no desenvolvimento e na progressão da
doença.
“Em testes
clínicos, nenhum dos tratamentos potenciais que dissolvem as placas amiloides
no cérebro mostraram muito sucesso em termos de redução dos sintomas de
Alzheimer. Alguns até mostraram efeitos colaterais negativos”, disse o
professor Thomas Bayer, do Centro Médico da Universidade de Göttingen.
“Decidimos por uma abordagem diferente. Identificamos um anticorpo em
camundongos que neutralizaria as formas truncadas da beta-amilóide solúvel, mas
não se ligaria às formas normais da proteína ou às placas”.
Esperança de vacina para o Alzheimer
Preeti
Bakrania e sua equipe da LifeArc adaptaram esse anticorpo para que o sistema imunológico humano
não o reconhecesse como estranho e o aceitasse.
Quando o
grupo de pesquisa da Universidade de Leicester observou como e onde esse
anticorpo ‘humanizado’, chamado TAP01_04, estava se ligando à forma truncada de
beta-amiloide, eles tiveram uma surpresa. A proteína beta-amiloide estava
dobrada sobre si mesma, em uma estrutura em forma de grampo de cabelo.
Segundo o
professor Mark Carr, do Instituto de Biologia Estrutural e Química da
Universidade de Leicester, “essa estrutura nunca tinha sido vista antes na
beta-amilóide”.
Conforme
explica Carr, descobrir uma estrutura tão definida permitiu à equipe projetar
essa região da proteína para estabilizar a forma em grampo e se ligar ao
anticorpo da mesma maneira. “Nossa ideia era que essa forma de engenharia de
beta-amiloide poderia potencialmente ser usada como uma vacina, para acionar o
sistema imunológico de alguém a produzir anticorpos do tipo TAP01_04”.
Quando a
equipe testou a proteína beta-amiloide projetada em camundongos, eles
descobriram que as cobaias que receberam essa ‘vacina’ realmente produziram
anticorpos do tipo TAP01.
Assim, a
equipe de Göttingen então testou o anticorpo ‘humanizado’ e a vacina
beta-amiloide projetada, chamada TAPAS, em outros camundongos com a doença de
Alzheimer.
Pesquisa teve sucesso em testes com camundongos
Com base
em técnicas de imagem semelhantes às usadas para diagnosticar Alzheimer em
humanos, eles descobriram que tanto o anticorpo quanto a vacina ajudaram a
restaurar a função dos neurônios, aumentar o
metabolismo da glicose no cérebro, restaurar a perda de memória e, mesmo que
não fossem diretamente alvos, reduzir a formação de placas beta-amiloides.
“O
anticorpo humanizado TAP01_04 e a vacina TAPAS são muito diferentes dos
anticorpos ou vacinas anteriores para a doença de Alzheimer que foram testados
em ensaios clínicos, porque eles têm como alvo uma forma diferente da
proteína”, explicou Bakrania. “Isso os torna realmente promissores como um
potencial tratamento para a doença, seja como anticorpo terapêutico ou como
vacina. Os resultados até agora são muito empolgantes e atestam a experiência
científica da equipe. Se o tratamento for bem-sucedido, pode transformar a vida
de muitos pacientes”, acredita.
Agora, os
pesquisadores procuram encontrar um parceiro comercial para possibilitar os
testes clínicos com o anticorpo terapêutico e a vacina.
(Flavia Correia Olhar Digital)
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